terça-feira, 3 de maio de 2011

William James e a MOQ


William James




                                                                     


William James foi o principal nome da ciência norte-americana no final do séc.XIX e começo do séc.XX. Foi um importante psicólogo que influenciou diretamente o surgimento da psicanálise e o filósofo criador do movimento chamado pragmatismo.

Nas palavras de James, " o pragmatismo é a união  do racionalismo científico com o empiricismo em sua forma mais pura e investigativa."

James interagiu com uma ampla gama de escritores e acadêmicos ao longo de sua vida, incluindo seu padrinho Ralph Waldo Emerson, seu afilhado William James Sidis, e outros como Bertrand Russell, Charles Peirce, George Santayana, John Dewey, Mark Twain e Carl Jung. Atualmente ele é considerado como um herói pelo filósofo Daniel Dennett.

Sem dúvidas, o pragmatismo é a principal ferramenta no modus constructus da MOQ.

Nas palavras de Robert Pirsig:

" James na verdade dispunha de dois sistemas principais de filosofia: o que chamava de pragmatismo e o outro, o empirismo radical.
O pragmatismo é o que o faz mais celebrado: a idéia de que o teste da verdade deve ser sua praticabilidade ou utilidade. De um ponto de vista pragmático a definição de “ao redor” do esquilo era verdadeira porque era útil. Falando pragmaticamente, o homem nunca tinha andado ao redor do esquilo.
Phaedrus, como a maioria das pessoas, sempre tinha presumido que o pragmatismo e a praticabilidade significavam virtualmente a mesma coisa, mas quando se deteve numa citação exata do que James tinha dito sobre o assunto observou algo diferente:
Disse James: “A verdade é uma espécie do bem e não, como usualmente se supõe, uma categoria distinta do bem e a ele coordenada”. Disse ele: “Verdadeiro é o nome do que quer que seja que pareça bom no que diz respeito à crença.”
“A verdade é uma espécie do bem”. Precisamente! É isso exatamente o que a Metafísica da Qualidade quer dizer. A verdade é um padrão intelectual estático incluído numa entidade mais ampla chamada Qualidade.
James tinha tentado popularizar seu pragmatismo fazendo-o vestir a casaca da praticalidade. Estava sempre pronto a utilizar expressões como “valor em espécie” e “resultados” e “lucros” para tornar o pragmatismo inteligível ao “leigo”, mas isso colocou James em maus lençóis. O pragmatismo foi atacado por críticos como uma tentativa de prostituir a verdade aos valores da feira livre. James ficou furioso com essa interpretação equivocada e lutou bravamente para desfazê-la, mas nâ verdade nunca conseguiu superar aquele ataque.
O que Phaedrus notou é que a Metafísica da Qualidade evitava esse ataque deixando claro que o bem ao qual a verdade se subordina é a Qualidade Dinâmica, não a praticabilidade. A compreensão equivocada de James adveio porque não existia uma estrutura intelectual clara para distinguir a qualidade social da Qualidade Dinâmica e durante sua existência vitoriana as duas eram monstruosamente confundidas. Mas a Metafísica da Qualidade afirma que a praticabilidade é apenas um padrão social do bem. É imoral que a verdade esteja subordinada a valores sociais, uma vez que seria uma forma inferior de evolução devorando uma forma superior.
A idéia de que a satisfação por si só deve ser o critério de avaliação de qualquer coisa é muito perigosa, segundo a Metafísica da Qualidade. Há diferentes tipos de satisfação e alguns deles são pesadelos morais. O Holocausto trouxe satisfação aos nazistas. Para eles aquilo era qualidade. Consideraram-no prático. Mas era uma qualidade ditada por padrões sociais e biológicos de nível baixo, cujo propósito geral era retardar a evolução da verdade e da Qualidade Dinâmica. James provavelmente teria ficado horrorizado ao constatar que os nazistas podiam usar seu pragmatismo com a mesma liberdade que qualquer um, e Phaedrus não encontrava nada que pudesse evitá-lo. Mas achava que a classificação que a Metafísica da Qualidade fazia dos padrões estáticos do bem prevenia aquele tipo de aviltamento.
O segundo dos dois principais sistemas de filosofia de James, que ele declarou independente do pragmatismo, foi seu empirismo radical. Com isso ele queria dizer que sujeitos e objetos não são o ponto de partida da experiência. Sujeitos e objetos são secundários. São conceitos derivados de algo mais fundamental que ele descreveu como “o fluxo imediato da vida que fornece o material para nossa posterior reflexão, com suas categorias conceituais”. Nesse fluxo básico da experiência, as distinções do pensamento reflexivo, como as entre consciência e conteúdo, sujeito e objeto, mente e matéria, ainda não emergiram nas formas em que as fazemos. A experiência pura não pode ser chamada nem de física nem de psíquica: logicamente precede essa distinção.
Em sua última obra, inacabada, Alguns problemas de filosofia, James condensou essa descrição numa única sentença: “Deve sempre haver uma discrepância entre os conceitos e a realidade, porque os primeiros são estáticos e descontínuos, enquanto que a segunda é dinâmica e fluente.” Ali James tinha escolhido exatamente as mesmas palavras que Phaedrus tinha usado na subdivisão básica da Metafísica da Qualidade.
O que a Metafísica da Qualidade acrescenta ao pragmatismo de James e ao seu empirismo radical é a idéia de que a realidade primal da qual surgem sujeitos e objetos é o valor. Assim fazendo parece unir o pragmatismo e o empirismo radical numa única textura. Valor, o teste pragmático da verdade, é também a experiência empírica primária. A Metafísica da Qualidade diz que a pura experiência é valor. A experiência que não é valorizada não é experimentada. As duas coisas são uma mesma coisa. É aí que se encaixa o valor. O valor não se encontra na rabeira de uma série de deduções científicas superficiais que o localiza em algum ponto numa misteriosa zona não especificada da córtex cerebral. O valor está exatamente na dianteira da procissão empírica.
No passado os empiristas tentaram manter a ciência livre dos valores. Os valores foram considerados uma poluição do processo científico racional. Mas a Metafísica da Qualidade deixa claro que a poluição vem de ameaças à ciência feitas por níveis estáticos inferiores da evolução: valores biológicos estáticos como o medo biológico que ameaçou as experiências de Jenner com a varíola; valores sociais estáticos como a censura religiosa que ameaçou Galileu com a roda dentada. A Metafísica da Qualidade diz que a rejeição empírica que a ciência faz aos valores biológicos e sociais é não apenas racionalmente correta, mas também moralmente correta porque os padrões intelectuais da ciência pertencem a uma ordem evolutiva mais elevada do que os velhos padrões biológicos e sociais.
Mas a Metafísica da Qualidade também diz que a Qualidade Dinâmica — a força de valor que escolhe uma solução matemática elegante em vez de uma solução laboriosa, ou um experimento brilhante em vez de um obscuro e inconcluso — já é uma outra matéria. A Qualidade Dinâmica é uma ordem moral mais elevada do que a verdade científica estática e é tão imoral que os filósofos da ciência tentem suprimir a Qualidade Dinâmica quanto é para as autoridades eclesiásticas suprimir o método científico. O valor Dinâmico é uma parte integrante da ciência. Está na dianteira do progresso científico.
De qualquer forma, tudo aquilo sem dúvida respondia à questão de saber se a Metafísica da Qualidade era uma forma estranha e pretensiosa de ver as coisas, desviada do bom caminho. A Metafísica da Qualidade é uma continuação da corrente principal da filosofia americana no século 20. É uma forma de pragmatismo, de instrumentalismo, que afirma que o teste para a verdade é o bem. Acrescenta que esse bem não é um código social nem uma intelectualização, como o Absoluto de Hegel. É a experiência direta do dia-a-dia. Através dessa identificação do puro valor com a pura experiência, a Metafísica da Qualidade prepara o terreno para uma ampliação do modo de se olhar para a experiência, que pode resolver toda sorte de anomalias com que o empirismo tradicional não foi capaz de arcar."  


(LILA, págs. 387 até 391).

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