terça-feira, 3 de maio de 2011

Heráclito de Éfeso e a MOQ

Heráclito de Éfeso


Ficheiro:Heraclitus, Johannes Moreelse.jpg

Heráclito de Éfeso (540 a.c - 470 a.c)  foi um filósofo pré-socrático considerado como o "pai da anti-dialética". Indiretamente seu pensamento traça um dialógo com a filosofia oriental de Lao Tse ( Tao Te Ching). A filosofia de Heráclito é o equivalente ocidental para a lei universal cosmológica do Tao.

Juntamente com os contemporâneos como Plotino, considerados como os sofistas, foram alvo de campanha odiosa por Platão, Aristóteles e a escola socrática.. Basicamente porque sua filosofia pretendia debater sobre valores subjetivos, fazendo uma ponte dologos com o mythos, contrário com a premissa socrática de que a razão seria a única via para se alcançar a Verdade.

Os filósofos de Mileto (Tales, Anaximandro, Anaxímenes, entre outros) haviam percebido o dinamismo das mudanças que ocorrem na physis, como o nascimento, o crescimento e a morte, mas não chegaram a problematizar a questão.
Heráclito, inserido no contexto pré-socrático, parte do princípio de que tudo é movimento, e que nada pode permanecer estático - Panta rei ou "tudo flui", "tudo se move", exceto o próprio movimento.


Panta rei os potamós (do grego πάντα ῥεῖ ), traduzido como "Tudo flui como um rio" é o célebre aforisma no qual a tradição filosófica subsequente identificou sinteticamente o pensamento de Heráclito com o tema do devir, em contraposição à filosofia do ser própria de Parmênides.

"Não se pode percorrer duas vezes o mesmo rio e não se pode tocar duas vezes uma substância mortal no mesmo estado; por causa da impetuosidade e da velocidade da mutação, esta se dispersa e se recolhe, vem e vai."
Tudo é considerado como um grande fluxo perene no qual nada permanece a mesma coisa pois tudo se transforma e está em contínua mutação. Por isso, Heráclito identifica a forma doSer no Devir pelo qual todas as coisas são sujeitas ao tempo e à sua relativa transformação.
Heráclito sustenta que só a mudança e o movimento são reais, e que a identidade das coisas iguais a si mesmas é ilusória: para Heráclito tudo flui (panta rei).
panta rei é uma consequência de polemos (guerra, conflito), que reina sobre tudo. Em consequência, Heráclito de Éfeso não é o filósofo do "tudo flui" mas do "tudo flui enquanto resultado da tensão contínua dos opostos em luta".

A sua Cosmologia da unidade dos contrários é talvez o aspecto mais original do pensamento filosófico de Heráclito. Semelhante aos opostos complementares (yin-yang) que regem o universo ( Tao ) : A lei secreta do mundo reside na relação de interdependência entre dois conceitos opostos, em luta permanente; mas, ao mesmo tempo, um não pode existir sem o outro. Nada existiria se não existisse, ao mesmo tempo, o seu oposto. 

E é a própria doutrina dos contrários que faz de Heráclito o fundador de uma lógica "antidialética", fundada na lei estética do devir da realidade. Antidialética porque tese e antítese (ser e não ser) são uma síntese contraditória e permanente na realidade, que só assim pode vir a ser, através dos seus dois aspectos existenciais ("no mesmo rio, entramos e não entramos"; "somos e não somos"); oposta à lógica aristotélica porque oposta ao seu princípio da não-contradição e do terceiro excluído.

Para Heráclito, a busca da virtude moral humana, consiste na integração do (desequilibrar-equilibrar) além da dualidade de opostos dinâmicas - a não-dualidade. Assim, a realidade dinâmica era contrária a ideia de existência como fixa, imutável e estática de Parmênides no qual Sócrates adotou. Assim, para Robert Pirsig...a cosmologia de Heráclito foi renegada por Sócrates - causando uma ruptura histórica que causaria danos e mudaria os rumos do pensamento Ocidental.

"A filosofia grega primitiva representou a primeira busca consciente do eterno nos domínios humanos. Até aquela época, o eterno residia no âmbito dos deuses e dos mitos. Agora, porém, os gregos se tornavam cada vez mais neutros com relação ao mundo que os cercava; houve um crescimento do poder de abstração, que lhes permitiu encarar o velho mythos grego não mais como uma verdade revelada, mas como obras de arte criadas pela imaginação. Tal consciência, que jamais existira em nenhuma outra parte do mundo, constituiu todo um novo nível de transcendência para a civilização grega.
Mas o mythos continua; o que destrói o velho mythos tornase o novo mythos; e este novo mythos, transformado em filosofia pelos primeiros pensadores jônicos, assegurou sua permanência de uma nova forma. A permanência não se situava mais apenas nas mãos dos deuses imortais. Encontrava-se também nos Princípios Imortais, dos quais a nossa atual lei da gravidade é um exemplo.
Inicialmente, segundo Tales de Mileto, o Princípio Imortal era a água. Segundo Anaxímenes, era o ar. Os pitagóricos achavam que era o número, sendo os primeiros a encararem o Princípio Imortal como algo abstrato. Heráclito acreditava que era o fogo, e nele introduziu o elemento da transformação. Afirmava Heráclito que o mundo é um eterno conflito, uma tensão entre forças contrárias. Ainda segundo ele, existem o Uno e o Múltiplo; o Uno é a lei universal, imanente a todas as coisas. Anaxágoras foi o primeiro a identificar o Uno como nous, ou seja, a mente.
Parmênides fez notar, pela primeira vez, que o Princípio Imortal, o Uno, a Verdade, nada tem a ver com a aparência e a opinião, e a importância dessa separação e seus efeitos sobre a história subseqüente é incalculável. Foi aqui que a racionalidade clássica, pela primeira vez, se separou de suas origens românticas, afirmou que o Bem e a Verdade não são necessariamente idênticos, e seguiu seu próprio caminho. Anaxágoras e Parmênides influenciaram Sócrates, que concretizou essas idéias.
É fundamental compreender que até aquela época não existia a divisão entre mente e matéria, sujeito e objeto, forma e substância. Tais divisões são apenas invenções dialéticas, adotadas posteriormente. O pensamento contemporâneo às vezes tende a recusarse a crer que tais dicotomias sejam invenções, dizendo: “Bem, os gregos apenas descobriram essas divisões.” Aí a gente pergunta: “E onde é que elas estavam? Mostre!” E o pensamento contemporâneo, meio atrapalhado, resolve que afinal não vale a pena discutir o caso, e continua acreditando que as divisões existiam."  
(ZAMM; págs. 369-370)

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